15 de jul. de 2010

Simplesmente Drummond...

Postado por Sandra Regina às 16:30

Amar

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"Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar?

amar e esquecer, amar e malamar, amar,desamar, amar?

Sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso, sozinho,

em rotação universal, senão rodar também, e amar?

amar o que o mar traz à praia, o que ele sepulta,

e o que, na brisa marinha, é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,

o que é entrega ou adoração expectante,

e amar o inóspito, o áspero, um vaso sem flor,

um chão de ferro, e o peito inerte,

e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,

distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,

doação ilimitada a uma completa ingratidão,

e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor,

e na secura nossa amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita."

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